Artigo

A população reclama o que é seu.




A população brasileira está paulatinamente percebendo que é participante principal de uma Democracia, em seu sentido contemporâneo. Isso significa que é ela a detentora do poder do Estado, delegando-o a quem deseja (pelo processo eleitoral), e também participando de maneira direta, em todos os seus estratos (maiorias e minorias).

A população, conhecendo esse fato, reclama o que é seu, não o que o Estado pode lhe dar. Reclama o que lhe pertence e foi sequestrado. Xingar a Presidente da República do Brasil em um evento internacional não foi um ato de selvageria, foi a demonstração de que a última gota já fez a água transbordar. De que gastar cerca de R$30.000 por mês com doces, pães, brioches, queijos e sucos para lanches no Palácio do Planalto é mais que abusivo para quem não dispõe de R$15 para comprar remédio para sanar uma dor de cabeça após um cansativo dia de trabalho (isso sem falar de dores/doenças que realmente interessam).

O coro que se fez no estádio Itaquerão quando da abertura da Copa do Mundo 2014 não foi a voz da elite brasileira, única capaz de comprar ingressos de alto preço, como disse a Presidente para se defender. Foi a voz uníssona do povo brasileiro, ora que não se formou coro maior justamente porque ali só estavam os poucos que dispunham de capital. Se abaixasse o valor do ingresso, o xingamento seria formado por número muito maior de pessoas.

Decerto, a chefe do governo do Brasil foi a representante escolhida para o ataque, mas quem se queria atingir ultrapassa a pessoa da Presidente. Queria-se alcançar, de forma geral, os agentes políticos (do executivo, legislativo e judiciário), os servidores de cargo em comissão e os agentes públicos faltosos ao labor (a exemplo daqueles que somente assinam/marcam seu registro de ponto ou que comparecem, mas não propiciam eficiência ao seu serviço).

Além do que, como se expôs, a democracia, formada em estreita ligação com a república, também é formada pelas classes econômicas altas. Tem ela a mesma importância que as classes mais baixas. O peso do voto é o mesmo, a tom da voz é o mesmo, as reivindicações são as mesmas (com as devidas proporções).

Os teóricos da Teoria das Elites: Gaetano Mosca, Pareto e Robert Michels (dentre outros) afirmavam a existência da classe governante (minoria) e a classe governada (maioria). A primeira vale-se da força (leão) ou da astúcia (raposa), sendo chamada de elite. A segunda é a massa, classe numerosa, desatenta, indecisa e facilmente levada. Essencial diferença entre ambos? ORGANIZAÇÃO.

Daí surgiu a máxima Lei de Ferro das Oligarquias (R. Michels), válida até os dias de hoje: “A organização é a mãe do predomínio dos eleitos sobre os eleitores, dos mandatários sobre os mandantes, dos delegados sobre os delegantes. Quem diz organização, diz oligarquia”. Conforme Pareto, a classe oligárquica (minoria mandante) se organiza, tendo como consequência a consolidação do mando sobre a massa desorganizada. Ou seja, a elite sobrepõe sua vontade sobre a massa, de forma legal ou violentamente imposta (no Brasil, tal forma se baseia no princípio da representatividade).

Logo, a conclusão há muito observada se impõe atualmente, de que a democracia nada mais é que uma formação de elites amplas e abertas. Situação que passa a mudar a partir dos tempos de hoje, com a sociedade gritando em coro: “Ei Dilma, vai tomar no c…”.